Rendição

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

by Clarice Lispector

As grandes navegações de Crystal

Crystal era uma garota bem legal, não era lá uma Vênus, mas até que tinha seus atrativos, além de um bom nível de inteligência e enorme simpatia.

Uma das características mais notáveis de sua personalidade era sua capacidade de fazer amigos e entregar-se ao afeto advindo de suas relações inter-pessoais.

Ela costumava navegar por certos mares, numa dessas navegações um outro barco no dela se esbarrou e ela fez o que então pensava ser uma nova amizade. E dedicou à capitã de tal barco sincera e desinteressado afeto.

Mais tarde, em suas navegações, um certo capitão resolveu abalroar o barco dela e ela achou ter ganho um novo amigo, até que a amizade se tornou algo mais…

Confiante e feliz, os barcos dela e do capitão navegavam juntos, até que Crystal resolveu apresentar ao capitão o mar em que navegava o barco da outra capitã, sua amiga, sem, no entanto, dizer à amiga que referido capitão era seu companheiro de navegação.

Então certa feita, Crystal viu os rastros que o navio da capitã encaminhavam-se para os mares e portos onde ancoravam o navio do seu capitão. Apesar da forte intuição, que dizia a ela que tais rastros tinham certo significado, Crystal achou que tratava-se de mera coincidência (forte, mas coincidência).

Mas então nos céus se formaram nuvens que prenunciavam tempestades, e os sinais estavam cada vez mais fortes. Crystal então resolveu comentar com a capitã sua amiga, que estava namorado o capitão. Estranha foi a resposta da capitã, estranha sensação se apossou do coração de Crystal.

Os indícios se acirravam; tempestade instalada, Crystal resolveu jogar verde, pois precisava saber, não podia mais ignorar. A capitã (até então considerada uma amiga), resolveu evitar os mares por onde Crystal navegava. E mais: resolveu ‘bater em retirada’ cada vez que o navio dela apontava no horizonte.

Crystal então, com coração apertado, magoado e triste, percebeu que era forte a possibilidade de ter perdido duplamente. Apesar de saber que perdas fazem parte da vida e que somente elas são capazes de fazer-nos valorizar os pequeninos ganhos, está ela aturdida.

Consultando um amigo, jovem contador de histórias, ele a fez ver que tudo pode não passar de coincidências, e os indícios serem explicáveis individualmente. Mas ainda assim dói e Crystal, apesar de delicada, não é fraca.

Simplesmente é melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado e a vida é uma sucessão de boas e más experiências. Se o acaso tiver juntado dois navios que lhe eram caros, ela só quer saber que isso ocorreu, só não deseja continuar a viver deste modo, pois a incerteza é bichinho cruel que corrói por dentro.

Crystal está prestes a mudar de mares, apareceu uma oportunidade dela usar seu barco para comércio que lhe rendam lucros mais vultosos. Nessas novas terras existem outros barcos, outros capitães, outros amigos. Crystal está confiante que, mesmo estando triste no momento, o futuro lhe reserva maiores sabores, maiores alegrias.

Qual será o final da história de Crystal?

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É apenas o esboço de uma novela, logo, não esperem lá muita coisa.

Eu já….

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade… Já tive medo do escuro, hoje no escuro “me acho, me agacho, fico ali”.
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de “amigo” e descobri que não eram… Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que vou dizer:
– E daí? EU ADORO VOAR!

by Clarice Lispector

<esse é procê, Aline!…e prá mim também! Acho que ambas fomos retratadas)